Em ampla expansão, e-commerce deve registrar avanços no próximo ano e ganhar mais representatividade no segmento de galpões e complexos logísticos. Embora ainda incipiente, se comparada a outros mercados mundiais, a participação do comércio eletrônico nesse ramo imobiliário tem crescido ano a ano, o que estimula perspectivas positivas para 2020.
“De 2016 a 2019, houve um aumento de 110% na área ocupada pelo e-commerce [no Brasil]. Passou a ocupar 662 mil metros quadrados, ao passo que, em 2016, eram 315 mil metros quadrados. Porém, em termos de [ocupação] logística, ainda estamos muito atrás de países como China, com cerca de 20% [dos galpões logísticos ocupados pelo e-commerce], e Estados Unidos, em torno de 17%”, aponta Giancarlo Nicastro, CEO da SiiLA Brasil.
Na visão dele, há um amplo espaço para o comércio eletrônico crescer, mas isso depende de um conjunto de fatores. “Esse cenário é justificado pelo fato de o e-commerce não caminhar sozinho. Não basta ter um bom condomínio logístico. É necessário haver uma permeabilidade grande, abrangência territorial, atendimento a localidades pequenas etc. O problema do Brasil é mais estrutural”, afirma. Nesse contexto, Nicastro lista ainda elementos de infraestrutura, como a qualidade da conexão da internet, e o acesso do consumidor ao crédito.
Por sua vez, Roberto Hasil, gerente de Planejamento Logístico da Souza Cruz, recorda que, nos grandes centros urbanos, há muita concorrência pelas melhores soluções, enquanto existe uma quase absoluta escassez em localidades menos competitivas. “Nesse horizonte, há grande espaço de crescimento para soluções sob demanda, nas quais o provedor de serviço consegue se adaptar às necessidades flutuantes de seus clientes. Os picos de volume de diversas empresas são complementares, e aquela que conseguir trabalhar nesse modelo tem altas probabilidades de êxito”, diz. “Também observamos diversas novas companhias com ideias muito interessantes e pouco acesso ao capital. Estamos vivenciando algumas iniciativas de crowdsourcing que podem se mostrar excelentes opções no futuro”, adiciona.
Potencial de crescimento superior ao do varejo
“Obviamente, o e-commerce continuará crescendo em representatividade. Se comparamos o Brasil a outros mercados globais, o País ainda está sub-representado. O comércio eletrônico tem potencial de crescer a um ritmo mais elevado do que o varejo”, opinou, por sua parte, Mauro Dias, presidente da GLP Brasil, em conversa com o GRI Hub em agosto passado. Ele concedeu a entrevista à plataforma de notícias do GRI Club logo após o Mercado Livre anunciar o investimento de R$ 3 bilhões no País – parte desse montante destinada a operações logísticas, incluindo instalações da GLP.
Em meio a desafios, de fato, há registros de expansão do comércio virtual. Divulgado no fim do mês de setembro, um levantamento inédito desenvolvido pelo Comitê de Métricas da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico (camara-e.net) em parceria com o aplicativo Compre & Confie indica que as vendas online tiveram uma variação de 68,35% no País entre janeiro de 2018 e agosto de 2019.
Em relação à participação do e-commerce no comércio varejista restrito – exceto veículos, peças e materiais de construção –, entre julho de 2018 e junho de 2019, a participação do comércio eletrônico no varejo foi de 5,2%. Em junho de 2019, o mês mais recente analisado pelo IBGE, o índice de participação do e-commerce no varejo restrito foi de 5,4%. O levantamento mostra ainda que a black friday influencia muito o setor no Brasil e que o período pode ser considerado o segundo Natal. Em outubro do ano passado, a participação do comércio eletrônico no varejo foi de 4,5%. Já em novembro, mês da promoção prévia às festas de fim de ano, foi de 8,3%, quase o dobro.
O desafio da last mile
Outra frequente discussão é se hoje a last mile já é, de fato, uma realidade em território nacional e que desafios ainda devem ser superados para seu avanço. “Nos Estados Unidos, há determinados produtos armazenados em certos pontos das cidades e a entrega pode ocorrer em menos de duas horas. Nesse país, há histórico do bairro, da região, do consumo”, diz Giancarlo Nicastro. No Brasil, todavia, ainda não existem dados coletados para fim similar. “Falamos muito da last mile; mas, no final do dia, ninguém faz efetivamente”, complementa o CEO da SiiLA Brasil.
Em reportagem anterior do GRI Hub, Thibaud Lecuyer, cofundador do Grupo Dafiti, do qual se desligou no início de outubro para se juntar à Loggi, ressaltou a importância de todo o ciclo e não das etapas separadas. “A questão da mudança da cadeia logística impacta o transportador e também os varejistas, o e-commerce. Agora, temos que procurar nas cidades e, no interior [um local de armazenagem], trazer um hub transportador para, de lá, enviar ao consumidor final. A necessidade de grandes centros de distribuição vai ser cada vez menor no futuro. [Em contrapartida,] serão necessários cross dockings pequenos, focados no interior [das cidades]”, analisou à época.
Oportunidade de novos negócios
Nesse contexto, a Souza Cruz viu uma oportunidade de novos negócios. Após uma mudança estratégica da empresa, a área de Marketing deixou de ser a responsável por operacionalizar a entrega dos produtos da companhia. Tal responsabilidade passou a ser da área de Operações. Foi então que a empresa entendeu que era um momento de se adaptar às mudanças da sociedade.
“Adotamos estratégias para realizar nossos processos logísticos cada vez mais perto do cliente, diminuindo o tempo de espera entre pedido e entrega. Ao reduzir esse espaçamento, conseguimos aumentar o percentual de entregas em até 24 horas de 30% [das áreas geográficas nacionais] para 70% do País. Quando se pensa na abrangência de uma cadeia logística como a da Souza Cruz, que atinge mais de 200 mil pontos de venda, não é uma tarefa simples. Também aproveitamos uma das maiores capacidades logísticas brasileiras para movimentar e entregar produtos de outras empresas de bens de consumo, reduzindo nossa ociosidade”, explica Hasil.
Para driblar as dificuldades de mobilidade nos grandes centros urbanos, a empresa também observou uma oportunidade de entregar seus produtos aos varejistas por meio de diferentes modais e novos modelos de transporte. “Então, hoje realizamos entregas via bicicletas (elétricas ou não), motocicletas, balsa e barca, entre outros. Nenhum modal está fora de cogitação. Um upgrade tecnológico também foi essencial para atingirmos esses objetivos, uma vez que atualmente o acesso a sistemas de ponta é possível para praticamente qualquer dispositivo”, continua o executivo.
Perspectivas futuras
Questionado sobre o futuro do segmento de imóveis industriais e logísticos nesse cenário, Giancarlo Nicastro, revelou entender que os players estão acompanhando o potencial aumento da demanda. “Nosso mercado está se preparando. Recentemente, tivemos a criação de um polo logístico na região de Extrema [MG], que é estratégica, com acesso ao Rio de Janeiro e a São Paulo, e também a de Belo Horizonte”, exemplifica ele.
Para Nicastro, fatores externos, como mudanças políticas e a necessidade de uma reforma tributária, são outros pontos que interferem no bom desenvolvimento desse mercado.
Fonte: GRIHub
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