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Covid-19: as opiniões dos players do setor
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imagem ilustrativa do vírus da covid-19

Por Fernando Didziakas – Sócio diretor da Buildings

Muitas perguntas para poucas respostas. Essa é uma realidade que não é difícil de ser percebida nesses tempos nos quais uma pandemia mudou a nossa forma de viver e de trabalhar. Ainda que algumas empresas que mantivessem alguma atividade em home office, foi preciso fazer adaptações para que as coisas funcionem como devem, mas, felizmente, tenho escutado muitos players apontarem sucesso nesse novo modelo.

Na Buildings, estamos seguindo as orientações da Organização Mundial de Saúde (OMS) e trabalhando totalmente em home office. Apesar de algumas dificuldades de contato com os proprietários, estamos conseguindo atualizar a nossa base de dados, mas, mais do que isso, estamos tocando alguns projetos que estavam na fila, com foco no crescimento pós-crise. Seguimos, como sempre, mantendo o foco na qualidade e no funcionamento dos nossos produtos e fazendo a manutenção das nossas equipes à distância.

Assim como para muitas empresas, 2020 começou para nós com ótimas projeções de crescimento. Com a chegada da covid-19, essa situação mudou. Por mais que as empresas tenham capital, elas seguraram novos contratos, afinal, não sabemos, com certeza, quando tudo isso vai acabar. Do meu ponto de vista, a situação deve se estender até o terceiro trimestre de 2020. Mas, mais importante do que a assertividade dessa previsão é a perspectiva de que teremos um mercado diferente. Toda essa estruturação para home office deve aumentar o número de pessoas que trabalham em casa. Esse comportamento, juntamente com uma nova frente de ambientes de trabalho que já vinha sendo aplicada – que consiste em espaços abertos e sem posições fixas de trabalho – deve resultar em uma leve mudança nos números no setor. Não imagino um impacto muito forte em relação a metros quadrados, mas consigo pensar em mais espaços com layouts reformulados nesse novo modelo, bem como um maior revezamento entre escritório e home office.

Quando tudo isso acabar – e precisamos acreditar que vai –, o mercado imobiliário corporativo vai precisar entender o que aconteceu e para onde ir. Por isso estamos mantendo o nosso trabalho a todo vapor. Mas entendo, também, que temos um comprometimento grande de disseminar informações para o setor, como fazemos trimestralmente por meio da nossa revista. Por isso, para esta edição, preparei uma Matéria de Capa diferenciada: nas próximas páginas, você vai conferir os resultados de uma pesquisa que fiz com os clientes da Buildings sobre a situação atual. Não se trata de uma pesquisa que visa traçar o futuro do setor, até mesmo porque isso é algo inviável, mas acredito que conseguimos, por meio das respostas e dos comentários, entender qual é o humor, a sensação e as expectativas em relação aos impactos da pandemia e do afastamento social. Confira a seguir.

Cenário pré e pós-crise

A primeira análise que fiz, com a colaboração dos nossos clientes, diz respeito ao período antes da quarentena, quando tudo ainda estava “normal”. É válido ressaltar que vínhamos em uma crescente no mercado imobiliário corporativo, sobretudo na cidade de São Paulo, com quedas nas taxas de vacância e aumento dos preços, já com uma saudabilidade interessante e próspera para o setor. Para entender esse cenário pré-crise, a pergunta foi: “Como foi o primeiro trimestre de 2020 para a sua empresa, antes da crise causada pelo coronavírus, do ponto de vista da quantidade de negócios fechados, do faturamento, do crescimento e da performance em geral?” Você confere os resultados no Gráfico 1.

As respostas para essa pergunta mostram que mais de 50% das empresas tiveram resultados de acordo com o que esperavam, enquanto mais de 31% conseguiram superar as expectativas. Ou seja, as projeções de crescimento do mercado seguiam bem, mesmo considerando os pouco mais de 15% de empresas que não cresceram como esperavam. Na Buildings, por exemplo, começamos o ano de 2020 a todo vapor, com novos contratos assinados. Naquele cenário, a nossa perspectiva também era de um crescimento exponencial, sobretudo ao considerarmos o ano todo.

Neste ponto da pesquisa, consegui notar que muitas empresas mantinham a mesma estabilidade do final de 2019 e, com isso, estavam movimentando bastante o negócio. Um exemplo é o do Pátria Investimentos. Segundo Fernanda Rosalem, diretora da empresa, foram concluídas importantes captações nas áreas de Private Equity e infraestrutura, além da realização do follow on do fundo de investimento de lajes corporativas da empresa, o PATC11, chegando a 100% da captação pretendida.

Outras empresas, como é o caso da Hemisfério Sul Investimentos, também indicaram crescimento: “O ano de 2020 começou bem forte, com a efetivação de alguns desinvestimentos programados ao longo de 2019 e com o fechamento de novos negócios relevantes. Os ativos apresentaram performance alinhada ou acima do esperado em todos os setores antes do início da pandemia”, diz Maximo Lima, sócio-fundador e CEO da empresa.

Com essas e outras respostas, ficou claro que o mercado vinha apresentando, no geral, sinais de estabilidade e arrisco palpitar que uma parte das empresas que disseram que obtiveram resultados dentro da expectativa não apresentaram crescimento por causa de uma postura mais conservadora, sobretudo depois da crise anterior pela qual o Brasil passou, uma medida compreensível.

Mas o que mudou com a chegada da pandemia e com a necessidade de isolamento social? Foi justamente para entender isso que fiz a seguinte pergunta para os nossos clientes: “Desde o início da pandemia da covid-19, como tem sido a performance do seu negócio?” O resultado você confere no Grafico 2.

Se ainda restavam dúvidas sobre os impactos da pandemia no setor, as respostas para essa segunda questão revelaram que sim, temos um grande impacto. Obviamente, assim como muitos players, acredito em recuperação e em reestruturação pós-crise e vou abordar esse tema a seguir, neste mesmo texto. Contudo, é inegável que será um desafio, se considerarmos que 63,16% das empresas tiveram resultados abaixo das expectativas, além de 5,26% que tiveram seus negócios estagnados.

O nosso negócio na Buildings é um reflexo do mercado. Obviamente, sentimos alguns impactos de forma mais amena, pois atendemos diversos nichos que atuam dentro do mercado imobiliário corporativo. Ainda assim, registramos uma redução na quantidade de novos contratos, mas creio que isso aconteceu mais por causa do cenário de incertezas, ou seja, acredito que quando a poeira baixar, independentemente do que ela vai revelar, teremos uma noção melhor do que vai acontecer.

Apesar de as respostas para essa questão revelarem que mais da metade da nossa amostragem teve resultados abaixo das expectativas, precisamos considerar algumas observações qualitativas. Temos como clientes diversos perfis de empresas, desde administradores e gestores de Fundos de Investimentos Imobiliários (FIIs) até prestadores de serviço e consultorias. E, para cada um desses mercados, o impacto pode ser diferente. No mercado de FIIs, por exemplo, esses impactos podem aparecer por meio de negociações de aluguel, segundo Fernanda Rosalem, do Pátria investimentos: “Isso impacta diretamente os yields anteriormente previstos para os ativos. Apesar de os ativos imobiliários não perderem o valor, as cotas dos fundos ficaram muito depreciadas, muitas vezes abaixo do seu valor patrimonial”, observa.

Anita Spichler, gerente da área de investimentos imobiliários da Rio Bravo, lembra que em 2020 o mercado de FIIs tem apresentado alta volatilidade em comparação ao ano de 2019: “As cotas dos fundos sofreram bastante oscilações no mercado secundário, com pequena melhora durante abril, mas sentimos uma grande redução da liquidez”, explica.

Claudia Martins, da Interface – empresa que trabalha com carpetes e pisos, incluindo linhas direcionadas para escritórios –, diz que a empresa passou por uma queda no volume de negócios no final de 2019, o que afetou o resultado do primeiro trimestre de 2020. Com isso, ela indica que, mesmo com a pandemia, o segundo trimestre de 2020 começou para eles com resultados positivos em comparação ao período anterior.

“Nossa previsão é a de que a pandemia comece a nos afetar a partir de junho deste ano”, projeta ela.

Não muito distante do negócio da Interface, temos as construtoras e empresas de engenharia e arquitetura. Eduardo Senra, diretor da Sempre Engenharia, lembra que a construção civil é, comumente, considerada como uma atividade essencial, e diz que a empresa teve, sim, uma queda de 30% nas obras, a pedido dos clientes, mas que os 70% restantes seguem em atividade. Para a John Richard, que trabalha com locação de mobiliário corporativo, a crise impactou um pouco mais. Segundo Pamela Paz, sócia-diretora, a empresa sentiu impactos depois da chegada da pandemia, com queda de 50% no fechamento de novos contratos em relação à projeção para o período. A empresa vinha de um forte crescimento, o primeiro trimestre desse ano foi mais de 25% acima do ano anterior.

Para os investidores que mantêm uma carteira de imóveis, o momento é de observação. Nessim Daniel Sarfati, sócio-fundador da Barzel Properties, diz que a expectativa antes da crise era a de aumento nas taxas de ocupação e nos valores de locação, como resultado de um aumento no PIB. Com a chegada da crise, ele indica que os novos negócios estão parados, mas que a empresa manteve a carteira de inquilinos: “Agora, o nosso foco é administrar essa carteira”, completa.

Por fim, não posso deixar de abordar o mercado de condomínios logísticos. Mauro Dias, presidente da GLP – empresa renomada do setor – diz que, no primeiro trimestre, no período pré-crise, os resultados foram de acordo com as projeções. Ele destaca, ainda, que esse setor tem se mostrado um dos mais resilientes no Brasil e tem sentido mais os impactos nos preços do que na ocupação. “A busca por eficiência no transporte de bens se mostra ainda mais importante para as empresas em momentos críticos. Notamos que alguns setores mantiveram a busca por instalações com melhor localização e mais eficiência”, justifica.

Retomada

Acredito que, assim como eu, você também acompanha, diariamente, as notícias sobre alguma cura ou vacina para a covid-19. Infelizmente, ainda não conseguimos entender, com clareza, quando isso vai acontecer, mas não podemos negar que algum avanço neste sentido pelo menos nos sinalizaria alguma data aproximada para a recuperação do nosso setor. Obviamente, ainda temos que contar com o tempo para que todos entendam o que aconteceu e tomem as suas decisões.

Ainda assim, trabalhamos com negócios que precisam de planejamento, claro, sempre pensando em margens de erro. Na Buildings, visualizamos uma melhoria a partir do terceiro trimestre deste ano, sabendo que muitos players possuem estratégias que passam pelo nosso trabalho. Não acredito que teremos, por exemplo, um terceiro trimestre conforme o nosso planejamento, mas algo próximo do que podemos considerar normal.

Para entender, também, o posicionamento dos nossos clientes, fiz a seguinte pergunta para eles: “Qual é a sua expectativa para a retomada do setor e da normalidade para os seus negócios?” Você confere os resultados dessa parte da pesquisa no Gráfico 3.

As respostas para essa pergunta mostraram que a maior parte dos players visualiza uma retomada somente a partir do quarto trimestre de 2020, sendo que 27,78% indicaram que essa melhoria acontecerá somente em 2021. Claudia Martins, da Interface, arrisca desenhar um cenário que, possivelmente, é compartilhado por outras empresas: “Se a retomada da economia acontecer no terceiro trimestre de 2020, nosso negócio deve reaquecer no último trimestre do ano. Com o término da quarentena – mesmo gradualmente – a partir de meados de maio, esperamos que o mercado retorne aos poucos, com maior fluxo entre julho e agosto, resultando em melhores resultados para o nosso setor a partir de setembro.”

Eduardo Serra, da Sempre Engenharia, diz que espera mais movimentação assim que o isolamento social terminar, já que a atividade da empresa pode ser importante quando isso acontecer: “Esperamos atender empresas que vão buscar reformulação de layout para devolução de espaços e/ou aumento de distanciamento de estações de trabalho. Mas acredito que não teremos mais expansões neste ano.”

Um novo perfil de ocupação

Entre todos os questionamentos que estão sendo feitos no setor, um deles tem gerado bastante dúvida: depois da pandemia, teremos mudanças no comportamento das empresas dentro dos espaços corporativos, bem omo mudanças no tamanho das locações? Essa foi mais uma pergunta da nossa pesquisa, cujo resultado você confere no Gráfico 4.

Sobre esse tema, a principal dúvida que tenho escutado é sobre o home office. Por mais que tenha sido uma situação forçada, muitas empresas estão satisfeitas, segundo as conversas que tenho com os responsáveis. “Acho que haverá uma redução, não somente pela falta de negócios, mas também por uma mudança de comportamento das empresas”, diz Ricardo Haas, da DVR.

É preciso lembrar que, antes da chegada da pandemia, já tínhamos uma nova frente de escritórios, mais modernos, sem estações físicas de trabalho, com espaços compartilhados, grandes mesas, mais espaços para descompressão, locais para reuniões informais e áreas rotativas, o que significa que em alguns dias o colaborador trabalha em home office e em outros vai até a empresa.

Fernanda Rosalem, do Pátria Investimentos, concorda que haverá uma mudança: “Ainda é cedo para falar se haverá ou não uma redução de espaços de escritórios comerciais. Sem dúvida, haverá uma mudança na ocupação do espaço, com maior distanciamento entre as pessoas, salas de reuniões menores e, talvez, o revezamento de pessoas em home office, mas ainda é difícil prever o impacto na ocupação. De qualquer forma, acreditamos que a ocupação possa sofrer uma pequena redução.”

Para Julia Botelho, CEO da Matchpoint, neste primeiro momento – ainda sem uma solução de saúde para a covid-19 – o comportamento das empresas mudou, sobretudo em relação aos cuidados com a higiene. Ela explica que percebe que muitas empresas podem voltar a adotar posições fixas e vão seguir utilizando mais o home office, para evitar glomerações. Em relação ao médio e longo prazo, Julia diz não acreditar em impactos muito grandes: “Durante a pandemia que estamos vivendo ficou claro que podemos, sim, trabalhar em home office, principalmente para atividades que necessitam de mais concentração, mas perdemos muita agilidade com a distância. O que acredito que vai mudar após a pandemia é a quantidade de reuniões externas e palestras. Os profissionais perceberam que podem fazer teleconferências e lives e que o resultado é o mesmo ou muito parecido. Neste sentido, teremos mais eficiência e menos custos, pois não haverá tempo de deslocamento”, completa.

Além dessas quatro perguntas, a pesquisa que mandei para os nossos clientes continha uma última questão: como a sua empresa tem enfrentado esse momento de crise e quais são os impactos que você prevê no seu setor? Assim como nos questionamentos anteriores, tivemosótimas repostas, que confere a seguir.

Quero finalizar este texto agradecendo a participação de todos que responderam a nossa pesquisa. Essa colaboração é muito importante para que o nosso setor se mantenha forte, colaborativo, interligado, claro e próspero. Aqui, do lado da Buildings, vamos manter o nosso trabalho, sempre mudando junto com o mercado e ajudando todos os players a entenderem os detalhes macro e micro do nosso mercado.

Como as empresas estão enfrentando esse momento de crise e quais são as previsões de impacto no setor?

“Desde o início da quarentena geral, a maioria das empresas desocupou os escritórios e partiu para o trabalho remoto (home office). No primeiro momento, não houve grandes repercussões efetivas, porém, passado o mês de março, as empresas que ainda estavam em processo de fechamento de novos contratos de locação pediram para pararmos e aguardarmos até o fim da quarentena. Houve pedidos de renegociação contratual entre inquilinos e proprietários, com redução ou prorrogação de pagamento das locações, mas estas renegociações estão sendo feitas ‘caso a caso’, sem uma tendência clara efetiva. O mais importante é que esta crise da covid-19, despertou nas empresas e nos empregados a experimentação do trabalho remoto. A experiência deu certo e, de acordo com nossa pesquisa junto aos ocupantes, a grande maioria acredita que o trabalho remoto fará parte de suas atividades pós pandemia, pelo menos num percentual acima do que vinha sendo praticado. A forma de ocupação dos espaços também deverá ser revista.”

Em relação ao nosso fundo imobiliário, a estratégia de investimento em imóveis de altíssima qualidade será mantida. Mesmo em um cenário macroeconômico de menor crescimento, continuamos acreditando em uma fase positiva do ciclo imobiliário brasileiro, especialmente na cidade de São Paulo e em imóveis classe A. Resiliência será a palavra-chave daqui em diante. Entendemos que o segmento de lajes corporativas premium – por acomodar inquilinos de maior porte e, geralmente, com maiores reservas financeiras – deve passar por este momento com efeitos menos prejudiciais ou de forma menos turbulenta. Não descartamos a possibilidade de um cenário agravado ao longo dos próximos meses e, na nossa visão, os fundos imobiliários não devem conseguir manter a previsibilidade na distribuição mensalde rendimentos, mas isso não significa que vão deixar de ser interessantes. A crise também pode trazer boas oportunidades de investimento aos cotistas, mas é cada vez mais importante entender os ativos de cada fundo e escolher um bom gestor. Agir com cautela sempre!

Muitas empresas já pensavam em adotar o home office, mas não como um todo. Ou seja: os escritórios ainda são muito importantes, por causa das reuniões, das negociações, das interações e da sinergia. Portanto, na minha opinião, a redução de espaços não deve acontecerno curto período de tempo, o que pode acontecer é uma parada na expansão dos espaços.

Estamos em um momento de nos reinventar e de entender quais são as novas demandas, bem como qual será o novo “normal”, para entregarmos a melhor solução para o nosso cliente. Passaremos por uma mudança gigante do workplace e, diferentemente de outros tempos – quando as mudanças no Brasil eram tardias em relação aos Estados Unidos e à Europa e tínhamos um benchmark, o que facilitava o processo –, desta vez estamos todos mudando juntos, descobrindo os novos caminhos. Flexibilidade, dinamismo e agilidade para mudar serão decisórios para o sucesso das empresas. Além disso, o investimento do capital no core, no que gera resultado, será regra. Frente a essas mudanças, a locação de mobiliário para necessidades temporárias e o as a service serão altamente demandados. Percebemos, de forma ainda mais evidente, que tudo muda, o tempo todo, e precisamos ter parceiros que nos ajudam a acompanhar essas mudanças.

Estamos conseguindo manter as obras em andamento, seguindo todos os cuidados indicados pelo Ministério da Saúde, e com 90% do escritório em home office. Estamos recebendo demandas, porém quase todas as propostas apresentadas estão em fase de revisão, por conta da pandemia e consequente revisão de custos, além das propostas que estão sendo postergadas. Acredito que os negócios devem ser retomados, lentamente, a partir de julho de 2020, com aceleração no último trimestre. Mas o resultado anual deve ficar de 60% a 70% menor do que o projetado.

Nosso negócio tem se comportado dentro do esperado em alguns dos setores nos quais atuamos e acima do esperado em outros. Um gestor cuidadoso e experiente, que já passou por outras crises, deve sempre pautar os seus investimentos na cautela para momentos como esse. Em um mercado ascendente, tudo ajuda e a valorização sempre ocorre, mas em um mercado descendente é que conseguimos avaliar a experiência do gestor. Neste sentido, nossa carteira tem se comportado muito bem nos diversos setores, com inadimplência muito baixa e poucas renegociações.

Nosso foco agora é nos concentrar na melhoria da gestão – adequando nossos edifícios à crise – e no relacionamento com nossos inquilinos. Ao mesmo tempo, estamos atentos a novas oportunidades que devem surgir nos próximos meses.

A crise tem nos ajudado a refletir e a reduzir alguns custos, bem como a transformar a forma de trabalho e atendimento ao cliente. A revolução digital acelerou de uma forma muito positiva, trazendo melhores ações junto aos clientes, além de menor custo. A revisão de ações e investimentos em marketing já é uma realidade e o conteúdo digital ajudará neste novo ciclo. As empresas buscarão melhores espaços de trabalho, oferecendo o conforto e bem-estar. Definitivamente, o ser humano será o centro no conceito dos projetos e isso ajudará os clientes finais que optarem por melhores especificações em menores áreas de ocupação.

Organizamos as nossas prioridades em três horizontes. O primeiro é o de preservação da saúde dos nossos colaboradores, clientes e fornecedores e a gestão de caixa. O segundo é o retorno dos nossos clientes aos escritórios, que inclui medidas para o prédio como um todo e de apoio aos locatários. O terceiro horizonte são as oportunidades que surgem com a crise, desde aquisições até a modernização dos sistemas prediais.

Nossa preocupação, no momento, é com a saúde e a segurança de todos. Todos os colaboradores dos escritórios de São Paulo e do Rio de Janeiro estão trabalhando em regime de home office. Nos parques logísticos, reforçamos a higienização de todas as áreas comuns, disponibilizamos álcool em gel e as operações têm seguido as orientações dos especialistas da área de saúde, para que ocorram com máxima segurança. Também estamos apoiando, individualmente, os nossos clientes nas medidas preventivas adotadas por cada empresa, proporcionando a estrutura necessária para sua implementação. Em relação aos negócios, estamos atentos aos desdobramentos da crise, seguindo nossa tese de investimento no Brasil, que é baseada nos dois grandes drivers da demanda por galpões: o movimento flight to quality de empresas que buscam instalações mais eficientes (já que os galpões modernos representam apenas 13% do mercado) e o crescimento do e-commerce. Nossa postura tem sido a mesma que mantivemos na crise anterior: nossos investimentos são de longo prazo, não tomamos decisões com base nos acontecimentos mais recentes. Temos que avaliar as ações conforme o cenário se desenvolve.

Temos negociado os aluguéis, um a um, considerando como a pandemia e a quarentena afetam o setor de cada locatário. Seguimos com os planos de expansão e não paramos as duas obras que temos em andamento. Em curto prazo, acho que a demanda pode diminuir, mas em médio prazo – por causa do aumento do e-commerce – acredito que a demanda pode aumentar.

A RealtyCorp é uma empresa de consultoria, estratégica e tecnológica, que zela pelo atendimento de excelência e pelo ótimo relacionamento com os clientes. Por isso, temos trabalhado bastante neste período de isolamento, mas acompanhando e obedecendo as orientações das autoridades governamentais Todos os clientes da RealtyCorp (investidores, proprietários e grandes empresas inquilinas) estão sendo atendidos prontamente e o feedback tem sido excelente. É óbvio que o número de negócios caiu, mas acreditamos que este processo vai passar e teremos um ano desafiador, mas com bons resultados.

Como todos estão trabalhando de casa por causa de uma situação forçada, tem sido uma boa oportunidade para testar se isso funcionaria no futuro. E a verdade é que, no nosso caso, está funcionando, principalmente depois de algumas semanas iniciais de ajuste. Creio que no nosso setor (de consultoria imobiliária), o conceito de desk-sharing deve aumentar muito e, portanto, a necessidade total de área de escritórios, na minha opinião, deve diminuir. Inclusive, já estamos vendo isto acontecer com algumas imobiliárias. O desafio de realizar visitas a imóveis potenciais com distanciamento pessoal tem sido vencido por meio de um bom planejamento. Usamos escadas sempre que possível e, quando não é possível, seguimos a regra de uma ou duas pessoas no elevador por vez, dependendo do tamanho do elevador. Evidentemente, é mais fácil manter o distanciamento durante as visitas a imóveis industriais e terrenos. Mesmo assim, com o objetivo de evitar visitas desnecessárias, temos investido em tecnologia para facilitar a visualização dos imóveis sem que o cliente tenha que sair de casa. Mais fotos, de mais ângulos, vídeos e plantas facilitam a triagem e a definição das melhores alternativas a serem visitadas.

Nossa maior preocupação é com a segurança e com a saúde de nossos colaboradores. É a nossa responsabilidade social para conter esta crise. Antecipamos a quarentena, acionando o nosso plano de contingência no início de março. Estamos mobilizados para avaliar a situação diariamente e temos agilidade para reagir com velocidade a qualquer mudança de cenário. No nosso negócio, o principal impacto no curto e médio prazo é uma redução drástica de liquidez, de dívida e equity, que levará a uma diminuição do volume de transações. Ao mesmo tempo, o aumento das incertezas e a redução de demanda em todos os setores exigirá muita agilidade de proprietários e investidores para ajustarem suas estratégias.

O que venho aconselhando aos meus cliente é (1) cautela (2) analisar caso a caso, com muito cuidado e (3) tomar atitudes sempre em curto prazo (apesar de ser algo mais trabalhoso e custoso). Todos serão impactados, de alguma forma, por essa crise e o mundo sairá mais pobre. A receita da Matchpoint já diminuiu e tende a diminuir ainda mais no curto/médio prazo, já que a empresa está diretamente ligada aos recebimentos de aluguel e nossos clientes estão oferecendo algumas concessões, além de enfrentarem inadimplência de alguns locatários. Entretanto, o impacto não será tão grande como para outras empresas e isso me deixa confortável para manter toda a minha equipe, com todos os salários integrais, benefícios e pagamentos – de todos os fornecedores, mesmo os que não estão conseguindo executar seus trabalhos – em dia. Uma coisa muito importante neste momento, na minha opinião, é trabalhar a “cabeça” da minha equipe diante dessa situação. Assim como a população em geral, senti que a equipe estava oscilando entre altos e baixos e focamos em ajudar a todos a manterem uma vida saudável e cabeça sã. Temos feito, diariamente, uma vídeo conferencia com todos para falarmos sobre os projetos e sobre como cada um está se sentindo, além de fazermos, uma vez por semana, uma aula de meditação on-line com uma professora. Adicionalmente, entregamos na casa de todos nossos colaboradores suas cadeiras, monitores, apoios de pé, pulso e mouse para que possam trabalhar ainda melhor em home office. O resultado foi muito bom.

Uma pequena parcela de clientes decidiu paralisar as obras e, portanto, o impacto em nossas operações foi reduzido até então. No entanto, prevemos um segundo semestre com significativa queda nos negócios e, consequentemente, nas margens. Todavia, sejam quais forem os movimentos das empresas – e acreditamos que estes movimentos ocorrerão – estaremos com os clientes para suportar os ajustes nestas reacomodações. Temos como foco propor alternativas economicamente viáveis para que os clientes se adequem às novas demandas advindas do momento que atravessamos, criando as condições adequadas para o perfil de cada empresa.Mais do que nunca, a inovação será a atitude que norteará nossa estratégia para entender e atender nossos clientes. Não acredito que a experiência do home office vá causar um impacto tão forte em nosso mercado, principalmente porque o ser humano é, acima de tudo, um ser social. Se, por um lado o home office se mostrou possível, por outro se mostrou entediante e cansativo. O ser humano precisa das relações pessoais, da troca de energias presenciais, e as empresas precisam do sentimento de pertencimento de seus colaboradores. Por esta razão, o espaço físico que reflita o perfil e os valores das empresas, onde haja compartilhamento de ideias integradas para favorecer a inovação e o progresso, é e será sempre imprescindível.

Link da matéria original em Buildings: https://blog.buildings.com.br/covid-19-as-opinioes-dos-players-do-setor/

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