O consórcio liderado pela Ecorodovias, em parceria com o grupo GLP, venceu ontem o leilão da BR-153, no trecho entre Goiás e Tocantins. A nova concessionária passará a operar a rodovia por um prazo de 35 anos e terá que investir um total de R$ 7,8 bilhões em duplicações e melhorias.
O consórcio venceu a disputa, realizada ontem, com uma oferta que combinou um desconto de 16,25% na tarifa de pedágio e o pagamento de uma outorga de R$ 320 milhões ao governo. Adicionalmente, a concessionária terá que depositar R$ 960 milhões em uma conta vinculada ao projeto – recursos que servirão como um “colchão de segurança” da concessão e poderão ser usados para antecipar obras, fazer reequilíbrios ou na mitigação de riscos cambiais e de demanda.
A oferta do consórcio superou a feita pela concorrente CCR, que também propôs um desconto de 16,25% na tarifa e um pagamento de R$ 117 milhões ao governo.
Mesmo com o volume alto de recursos demandados pelo leilão, a Ecorodovias segue trabalhando para participar das próximas concorrências federais de rodovias, segundo o diretor financeiro do grupo, Marcello Guidotti.
Em estudo, estão ao menos três ativos: a BR-163, entre o Mato Grosso e o Pará (cujo leilão está marcado para o dia 8 de julho); a rodovia Dutra (entre São Paulo e Rio de Janeiro), considerado o principal projeto do setor; e os blocos de rodovias do Paraná, que ainda estão em estruturação pelo governo federal.
A companhia – controlada pelo grupo italiano Gavio (46,6%) e pela Primav (da CR Almeida, com 22,37%) – é um dos maiores operadores de rodovias do país e tem trabalhado para manter a posição, buscando a renovação de seu portfólio. Até este leilão, a empresa detinha dez concessões. Porém, duas delas, no Paraná (que hoje representam cerca de 22% da geração de caixa do grupo), se encerrarão no fim de 2021.
A companhia tem participado de forma regular dos grandes leilões de rodovias do país. O último contrato adquirido foi em 2019, com a concessão da BR-364/365, entre Minas Gerais e Goiás. Desde então, a empresa perdeu a disputa pela BR-101 (SC) para a CCR, e pelo corredor Piracicaba-Panorama (SP), para a gestora Pátria.
Porém, a companhia vem se capitalizando para aproveitar a onda de novos projetos. Um dos movimentos nesse sentido é a reestruturação societária da empresa. Em março, houve um primeiro fechamento, mas o processo ainda está em curso. Ao fim da reforma, o grupo deverá realizar uma oferta pública de ações que irá injetar na empresa entre R$ 1,2 bilhão e R$ 1,8 bilhão (a depender das condições de mercado). Os recursos virão principalmente dos italianos do grupo Gavio.
No caso da BR-153, Guidotti explica que a estruturação financeira será dividida em 30% de capital próprio e 70% de dívida. O financiamento deve combinar debêntures, BNDES e Banco da Amazônica (para os investimentos no Norte do Tocantins).
Além disso, ele destaca que a capacidade de investimento no leilão foi ampliada pela parceria com a GLP (antes chamada Global Logistic Properties), empresa com sede em Cingapura que, no Brasil, é lider no setor de galpões logísticos. A sócia entrou com uma fatia de 35% no consórcio.
A GLP fez sua estreia no mercado brasileiro de concessões rodoviárias no fim de 2019, quando venceu uma concessão no Mato Grosso do Sul, a MS-206, em parceria com construtoras de porte médio. O grupo já vinha manifestando seu interesse na concessão da BR-153. A rodovia se encaixa no perfil desejado pela GLP, que, pela sua atuação no setor logístico, prefere rodovias com mais ênfase na movimentação de carga.
A companhia também sinaliza que o interesse nos projetos de infraestrutura não esgotou no leilão de ontem. “O pipeline é promissor, tanto no âmbito federal como no estadual. A GLP tem buscado oportunidades ao lado de parceiros que agregam seu ‘know-how’ na administração dos ativos para somar forças”, disse Danillo Marcondes, diretor de Investimentos em Infraestruta do grupo, em nota. Guidotti, da Ecorodovias, indicou que o consórcio poderá se repetir: “A parceria começou agora, deu certo. São parceiros financeiros, ajudam a aumentar a capacidade de investimento. Vamos ver se vamos continuar com eles. Faz sentido, como fez com a 153”.
No mercado financeiro, a reação à vitória do grupo foi positiva. As ações da Ecorodovias encerram a quinta-feira com alta de 4,55%, fechando em R$ 12,18.
O projeto da BR-153 é visto no setor como um marco. Primeiro, por ser a relicitação de uma concessão problemática leiloada no governo de Dilma Rousseff. A rodovia chegou a ser operada pelo grupo Galvão, mas os investimentos não foram feitos, o que levou à caducidade do contrato. Além disso, foram incluídas inovações consideradas importantes no contrato, como o critério híbrido de seleção do vencedor e os mecanismos de compartilhamento de riscos de demanda e cambial.
A estruturação do projeto foi elogiada pelo diretor-executivo da EcoRodovias, Nicolò Caffo. “Quando contrato é bem feito, dá segurança ao investidor. É por isso que hoje conseguimos ganhar com uma oferta que achamos boa para a Ecorodovias, o governo federal e a população”, disse.
Por Taís Hirata — De São Paulo 30/04/2021
Foto: Silvia Zamboni/Valor