Empresas de diferentes setores, como turismo e educação, têm captado
Neste início de ano, as ofertas públicas de debêntures seguem praticamente paralisadas. Mas as operações via esforços restritos de colocação (ICVM 476) estão saindo: até o dia 22, onze companhias captaram R$ 4,5 bilhões com esse instrumento, conforme dados da Cetip. De acordo com o site da Comissão de Valores (CVM), há outras três operações em andamento.
Uma única oferta, realizada pela empresa de telecomunicações Claro somou R$ 2,5 bilhões, ou 55% do total. O volume de operações em janeiro deve ficar próximo ao registrado no mesmo mês de 2019, quando as empresas captaram R$ 5,5 bilhões, segundo dados da CVM. Para essas operações, o primeiro mês do ano não costuma ser o mais forte.
As distribuições com esforços restritos procuram um número limitado de investidores e costumam ir para a rua com destino certo: um grupo de quatro ou cinco investidores e, muitas vezes, o banco que coordena a operação também fica com percentual relevante. As empresas captam para trocar dívida mais cara por outra mais barata, algumas pensam em projetos de expansão e outras estão no primeiro acesso ao mercado de capitais com esse instrumento.
A lista de janeiro traz setores diversos acessando o mercado, como turismo, logística, serviços hospitalares, securitização e educação. As taxas estão saindo mais altas para as empresas menos conhecidas. E nomes que já fizeram outras operações estão conseguindo prazos maiores, particularmente no setor de energia. Nas debêntures simples, não há operação a percentual do CDI.
A Litela Participações é um exemplo de novata no mercado, com um propósito bem específico. A holding é o veículo que reúne as ações de controle da Vale dos fundos de pensão. Ela recebeu as ações da Litel depois que esta passou por uma reestruturação para facilitar a venda da fatia dos fundos de pensão na Vale.
A Litela, que tem cerca de 17% da Vale, captou R$ 170 milhões, com prazo de 1 ano e taxa de CDI + 1,125%. A emissão da Litela, de acordo com fontes, teria o mesmo objetivo de uma feita em setembro do ano passado pela Litel, no valor de R$ 450 milhões: antecipar o pagamento de dividendos da Vale para os fundos de pensão. No início do ano passado, após o desastre do rompimento da barragem em Brumadinho, a Vale suspendeu o pagamento de proventos.
O veículo de controle está agora captando debêntures para fazer o pagamento aos acionistas e, quando os recursos forem liberados pela Vale, ela pagará os debenturistas. Quem comprou esses papéis à época da emissão da Litel avaliou que o valor de mercado da Vale era quatro vezes o total da dívida e acharam que a operação fazia sentido. O único risco, improvável, seria a holding usar os recursos em vez de distribuí-los. Em dezembro, o conselho de administração da Vale declarou R$ 7,2 bilhões em juros sobre capital próprio, mas não fixou data para o pagamento. Procurados, Previ, Petros e Funcef, que detêm as principais participações na Litela, não deram entrevista.
Ainda na lista de empresas que estreiam com a venda de debêntures, o Beach Park, complexo hoteleiro e de parque aquático localizado no Ceará, captou R$ 100 milhões, num papel de cinco anos, com taxa de CDI + 3,5% – atrativa do ponto de vista dos investidores no mercado atual. A operação foi coordenada pelo banco Itaú BBA, ao lado da Uniletra. E a Ímpar Serviços Hospitalares, da família de Edson Bueno, criador da Amil, captou R$ 600 milhões, com papéis que vencem em 2024 e vão pagar CDI + 1,40% ao ano. A operação foi coordenada pelo Bradesco.
A Agasus, que atua no mercado de locação de equipamentos, outsourcing e soluções em TI, também pretende acessar o mercado pela primeira vez. Ainda não há informações sobre o tamanho da operação, que é liderada pela FRAM Capital. A Rec Guarulhos, empresa do grupo GLP, que atua no setor de logística, imobiliário e construção, fez uma operação de R$ 450 milhões, com vencimento em 2030, que saiu a CDI + 1,38%. É a segunda vez que a companhia acessa o mercado e a oferta foi coordenada pelo Itaú BBA.
A ACEF S.A., que faz parte do Grupo Cruzeiro do Sul Educacional, e reúne universidades em Franca, interior de São Paulo, emitiu R$ 155 milhões, em operação comandada pelo Santander. Os papéis vencem em 2026 com taxa de CDI + 1,5%. Essa é a terceira emissão da empresa. A Cruzeiro do Sul Educacional informa que usa o instrumento para captar recursos para sua expansão.
Com uma operação liderada pelo Votorantim, ao lado do Santander, a Aqua- Rio (Aquário Marinho do Rio de Janeiro) conseguiu levantar R$ 90 milhões, pagando CDI + 2,30%, com prazo de quatro anos.
A maior quantidade de emissões veio das empresas de energia. A Taesa, por exemplo, levantou R$ 300 milhões, numa debênture de infraestrutura, remunerada a IPCA + 4,77%, com prazo de 25 anos. Nas ofertas públicas, a única em andamento é da Eneva, que buscará R$ 600 milhões com debêntures de infraestrutura.
Fonte: Valor Econômico Online
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