Fonte: Valor Econômico
Autora: Ana Luiza Tieghi
A startup de armários inteligentes Clique Retire recebeu investimento de R$ 17 milhões no último mês, feito pela empresa de logística GLP e por fundos do Itaú Asset. Segundo Mauro Dias, presidente da GLP Brasil, a companhia já investiu em negócios similares na China e vê potencial para a expansão desse tipo de serviço no Brasil.
Dias ressalta que a companhia, se define como uma empresa da “nova economia”, que segue investindo em logística, mas também avança em áreas correlatas, daí o interesse no modelo da Clique Retire. Em 2019 e 2021, a GLP também fez aportes na Cobli, startup de gerenciamento de frota, e na Loggi, de entregas. A GLP era uma empresa de capital aberto, com ações negociadas na bolsa de Singapura, mas em 2018 decidiu voltar a ser fechada, e um dos motivos para isso foi o interesse em investir além do setor de galpões. Já são mais de US$ 3 bilhões (R$ 16,2 bilhões) investidos globalmente. “A empresa via oportunidades além do real estate, sempre fomos muito empreendedores, e isso não estava capturado no valor da GLP”, afirma Dias.
O presidente conta que a companhia está estruturando uma operação brasileira de data centers, setor no qual já atua na China. “Vemos crescimento acelerado daqui para a frente. Tudo o que está acontecendo, 5G, internet das coisas, precisa de infraestrutura, e temos base de real estate muito forte, o que dá vantagem para entrar nesse setor”, diz.
Como é uma área que demanda alto consumo de eletricidade, a companhia também pretende atuar no segmento de energia renovável no Brasil, para abastecer sua operação de data centers.
Ao mesmo tempo, a empresa vai continuar expandindo sua atuação nos imóveis logísticos. A GLP entregou 400 mil metros quadrados de área locável em 2021 e deve entregar mais 400 mil até o final de 2023, investindo R$ 1,4 bilhão.
Dias analisa que a atuação com os galpões, e o contato próximo com players do varejo e das entregas, oferece uma posição privilegiada para observar as tendências dessas áreas, o que abre oportunidades de investimento, como ocorreu com a Clique Retire.
A startup nasceu em 2019 e tem hoje armários em cerca de mil localidades, espalhados por 19 Estados, afirma Gustavo Artuzo, diretor-executivo da companhia.
Seu público-alvo eram pessoas com dificuldade de receber entregas, por falta de tempo ou por morarem em regiões não atendidas pelos serviços de delivery. Os armários eram instalados em locais com grande movimentação, como estações de metrô.
Hoje, esse perfil responde por 40% dos negócios. Outra fatia de 40% da startup é dedicada aos armários em condomínios residenciais e lojas. Nos condomínios, eles são um adicional importante para a instalação de portaria eletrônica, já que não há porteiros para receber as entregas. Nas lojas, ajudam a organizar a retirada de compras virtuais, devoluções e trocas.
Os 20% restantes são da área mais nova da Clique Retire, de guarda-volumes, que começou após a fusão das operações com a MOCS, anunciada em fevereiro. A empresa faz de quatro a cinco eventos por mês, diz Artuzo, e deverá atender até 15 mil pessoas simultaneamente no Rock in Rio.
O negócio tem crescido 30% ao mês e quer chegar ao final do ano com armários em 1.700 locais. Para o final de 2023, a meta é 3.000.
Não depender exclusivamente do comércio eletrônico é positivo para a startup, ainda mais em um momento de desaceleração desse tipo de venda. Dados da MCC/Neotrust, publicados no Valor, mostram que o crescimento do faturamento do comércio virtual esperado para este ano caiu de 8% para 5%. Estão previstos R$ 169 bilhões.
Para Dias, isso já era esperado. “As empresas tiveram que crescer muito rápido em um período curto, é natural que procurem mais eficiência, otimizar a base que já têm”, diz. Ele não espera que o segmento pare de crescer, mas que evolua em ritmo “mais normal, sem aquela aceleração que ocorreu pela pandemia”, completa o presidente da GLP.
Artuzo afirma que a acomodação impacta a Clique Retire, mas que a taxa de crescimento consegue absorver isso. “Quando passamos de 8% para 5%, toda a economia sofre, seria exagero dizer que não tem efeito, mas vamos passar de crescer 30% ao mês para crescer 27%, continua forte”, diz.
A GLP consolidou sua atuação no Estado de São Paulo, onde estão dois terços do seu portfólio, em um raio de 30 quilômetros da capital. Agora, Dias vê oportunidade para crescer em um raio de 15 quilômetros, para viabilizar a logística de “last mile”, entregas que chegam no mesmo dia dos pedidos.
Segundo ele, há espaço para avançar nesse segmento porque os galpões atuais são antigos e defasados. “Tem movimento de substituir coisas antigas e ineficientes e tem o crescimento da demanda puxando esse mercado”, diz.
A empresa adquiriu terrenos dentro do raio de 15 quilômetros, para galpões menores, com operação de giro rápido, mas ainda não há data para iniciar as obras.